Raio-X: Holanda e Alemanha se enfrentam por vaga Olímpica

Matheus
11 min readFeb 27, 2024

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Na última oportunidade, as duas gigantes decidem quem irá carimbar o passaporte para os Jogos Olímpicos de Paris

Reprodução: Instagram oficial UEFA Women's Nations League

Após fracassos recentes na Copa do Mundo de 2023, realizada na Austrália e na Nova Zelândia, Holanda e Alemanha tentam carimbar a última vaga para os Jogos Olímpicos de verão de 2024, que acontece a partir de Julho na França. O país sede, já com vaga garantida, abriu oportunidade para que mais duas vagas saíssem por meio da UEFA Women’s Nations Legue (UWNL), que está em sua primeira edição feminina. Os dois finalistas do torneio garantiriam vaga em Paris caso a França não chegasse a decisão, caso o contrário a vaga seria dada a quem terminasse com a terceira colocação do torneio, e foi exatamente o que aconteceu. Com a França disputando a final, a última vaga da Europa para os jogos será decidido entre as alemãs e as holandesas, que foram eliminadas na semi final do “Final Four” da Nations, e agora uma delas também terá o sonho o Olímpico destruído.

O momento das duas seleções

Com quedas precoces na Copa do Mundo de 2023 e campanhas semelhantes durante a fase de grupos da UWNL — porém com resultados totalmente opostos na semi — Holanda e Alemanha vão se enfrentar pelo sonho de estar na França no meio do ano. A seleção do centro europeu, campeã em 2016 no Rio de Janeiro, tenta voltar a disputar a competição depois de ter ficado fora dos jogos de Tóquio em 2020. Já as “Leoas Laranjas”, por sua vez, sonham com a classificação e para que Paris seja diferente de 2020, onde a seleção não passou das quartas de final, quando caiu para o Estados Unidos.

O caminho da Holanda até aqui

Depois de dois anos não tão bons quanto o esperado, com quedas nas quartas da Eurocopa 2022 para a França, e na Copa do Mundo de 2023 para a Espanha (que viria a ser campeã), as Laranjas voltaram suas atenções ao torneio realizado pela UEFA, que está em sua primeira edição feminina e que serviria como um modelo de pré-olimpíco, dando assim a vaga nos jogos.

Quatro vitórias, duas derrotas, terceira melhor defesa e terceiro melhor ataque (empatada com a Rival a Alemanha). Ao olhar os números, é possível imaginar uma classificação tranquila para a fase final, mas não foi bem isso que aconteceu. Depois de estrear perdendo para a Bélgica, as holandesas conseguiram uma sequência de de três vitórias seguidas, inclusive contra a rival direta, Inglaterra. Os resultados fizeram com que uma vitória na penúltima rodada contra as inglesas, em Londres, garantisse o país na segunda fase. Após abrir 2x0, as visitantes cederam o empate, algo que não seria ruim tendo em vista que na última rodada bastaria não perder e a classificação estaria confirmada. Porém, nos acréscimos, as Lionesses conseguiram a virada, colocando as holandesas sob pressão na última rodada. Enfrentando a Bélgica no encerramento da fase de grupos, as combinações eram malucas: Não bastava vencer, também era necessário contar com que a Inglaterra, caso vencesse a Escócia, não tirasse a diferença do saldo de gols. Com esse clímax, a disputa pela primeira posição do grupo foi, literalmente, até o último minuto. Com a rival vencendo o jogo que acontecia no mesmo horário, a Holanda lutou brilhantemente até o apagar das luzes. Estando fora das semis até os acréscimos, a heroína foi a meio campista Damaris Egurrola, que marcou um gol aos 45 e outro aos 49, faltando menos de 40 segundos para o fim da partida.

Com a vaga garantida, o sorteio foi ingrato: Colocou a Espanha, algoz na Copa do Mundo, no caminho da Holanda. Jogando na casa das espanholas, desde o começo foi um jogo muito complicado para as visitantes. Mesmo tendo a primeira grande chance com Esmee Brugts, o domínio foi inteiro das donas da casa, que pareciam ter facilidade para acelerar o jogo no momento em que queriam. A Holanda se segurou até os 40 minutos do primeiro tempo, quando Jenni Hermoso abriu o placar, e foi seguida por Aitana Bonmati, que ampliou apenas 4 minutos depois. Com necessidade de sair para o jogo, as holandesas até tentaram, mas praticamente não assustaram a meta da goleira Catalina Coll. A Espanha ainda fechou o jogo aos 32 minutos do segundo tempo, com gol da lateral Ona Battle. Com o resultado, a primeira vaga nas Olimpíadas ficou com a Espanha, enquanto a Holanda tinha que torcer para que o resultado do outro jogo colocasse a França na final, e foi exatamente o que aconteceu, reacendendo as chances laranjas.

📸: oranjeleeuwinnem via instagram

E a Alemanha?

Diferentemente da Holanda, as alemãs fizeram uma boa Euro em 2022, perdendo o título para as donas da casa, a Inglaterra, na prorrogação por 2x1. Depois de um bom torneio continental, a esperança era que o desempenho se repetisse durante o Mundial de 2023, porém a gigante passou bem longe disso. Com uma derrota, um empate e uma vitória, as alemãs foram eliminadas ainda na primeira fase, uma decepção enorme em comparação a expectativa que existia sobre elas.

Voltando suas atenções ao torneio continental (Nations League) e buscando voltar aos jogos olímpicos, a Alemanha, da mesma forma que a sua rival, não teve vida fácil. Foram 4 vitórias, um empate e uma derrota, justamente na estréia e contra a sua rival direta na briga pela classificação, a Dinamarca. Após o revés, a seleção alemã engatou uma sequência 3 vitórias seguidas antes do decisivo jogo contra Dinamarca. Uma nova derrota para elas na penúltima rodada eliminaria a Alemanha, assim como na Copa, ainda na fase de grupos. Por outro lado, uma vitória empatava as duas em pontos e a decisão também ficaria para a última rodada. E foi exatamente o que aconteceu. Jogando em casa, as Alemãs venceram por 3x0 com gols de Popp, Hegering e Klara Buhl. Na última rodada bastava uma vitória para não depender do resultado das dinamarquesas, porém, contrariando o que se era esperado, a seleção do centro europeu não saiu do 0x0 com País de Gales. Esse placar faria com que fosse necessário o término do jogo entre Dinamarca x Islândia para sabermos quem avançaria. E mais uma vez, contrariando as expectativas, o improvável aconteceu. A já eliminada Islândia venceu por 1x0, com gol de Vilhjálmsdóttir, dando assim a vaga para as alemãs e acabando com o sonho dinamarquês.

Com lugar nas semis, o chaveamento colocou a França, já garantida nas Olimpíadas por ser o país sede, no caminho. Bastava uma vitória fora de casa para a Alemanha também garantir uma vaga. Em um jogo muito mais equilibrado do que a outra semi, as duas seleções tiveram chances reais de marcar, e quem saiu na frente foram as donas da casa com Diani aos 40 minutos do primeiro tempo, seguida por um gol de Karchaoui, de pênalti, aos 44. Com a mesma intensidade, o segundo tempo continuou aberto, com ambos os times criando, mas com as alemãs tendo chances mais claras. Depois de muito insistir, aos 37 minutos as visitantes conseguiram diminuir com Giulia Gwinn, também de pênalti. Com a derrota, a Alemanha viu o sonho olímpico depender da decisão de terceiro lugar contra a Holanda.

📸: dfb_frauenteam via instagram

Como chegam as duas seleções e o que é possível esperar desse confronto decisivo

Depois dos jogos complicados que tiveram nas semis, Alemanha e Holanda parecem chegar com astrais bem diferentes para esse “duelo olímpico”, mas algumas coisas parecem ter ficado muito visíveis e podem ser aproveitadas no confronto.

Com um misto de experiência e juventude, as holandesas parecem ter problemas principalmente no setor defensivo, que foi muito machucado contra a Espanha na semi e no importantíssimo jogo contra a Inglaterra na fase de grupos. Demonstrou ser um time muito passivo na marcação, não conseguindo fazer uma marcação alta com pressão e sofrendo muito na recomposição, principalmente por ter uma zaga mais lenta. Jogando contra ataques velozes, sentiu muita dificuldade em se ajustar, se desorganizando muito quando sua defesa não estava postada. Na parte ofensiva, tem uma criação interessante, com movimentações constantes das suas jogadoras de frente, além de um meio campo com um bom poder de criação e jogadoras que buscam ter a bola para ajudar na construção.

Assim como a rival, a Alemanha também apostou em uma convocação que mescla algumas jogadoras mais experientes com jovens. Em campo, demonstrou uma dificuldade em marcar as jogadas realizadas pelas pontas, sendo a maioria dos ataques das adversárias acontecendo dessa forma, porém com uma frente de zaga muito bem protegida, dificultando tentativas de avanço pelo meio, mas se atrapalhando na bola aérea em alguns momentos e em lançamentos entre suas linhas de marcação. Por outro lado, se a bola pelo alto e as jogadas pelas pontas são problemas lá atrás, no ataque são jogadas muito fortes da seleção alemã, usando muito bem a combinação do jogo lateral, seja criando uma oportunidade própria ou colocando a bola na área, além de também saber alternar muito bem entre entre uma linha mais baixa e uma marcação alta, para roubar a bola mais perto do gol.

Ambas as es equipes possuem ataques rápidos, com movimentação e trocas de posições, algo que pode ser muito bem explorado quando se olha as dificuldades defensivas que elas possuem. Os espaços que são deixados pelos dois times potencializam os ataques, que podem aproveitar muito bem isso e fazer um jogo movimentado. O lado psicológico também vai pesar muito em campo. A Holanda jogará em casa, mas vem de uma derrota avassaladora, enquanto a Alemanha, apesar da derrota, fez um bom jogo fora contra a França. Será interesante ver como as duas seleções vão lidar com esse fator mental quando entrarem em campo, já que o jogo vale muito mais do que um terceiro lugar, é uma luta pelo sonho doa Jogos Olímpicos de Paris.

Para ficar de olho

A Alemanha vai com força máxima para o jogo, enquanto a Holanda terá os desfalques que Victoria Pelova e sua maior artilheira, Vivianne Miedema. As atletas inclusive já retornaram ao Arsenal.

Apesar dos desfalques das Leoas laranjas, o jogo é recheado de alguns bons destaques.

Duelo entre goleiras

De uma lado, a goleira do gigante Wolfsburg, a alemã Merle Frohms, que já vem a um certo tempo tendo destaque tanto por clubes quanto por seleção. Do outro, a jovem Daphne Van Domselaar, que ganhou maior visibilidade depois de assumir a posição na última Eurocopa e tomar conta da posição. A Alemã na temporada tem 18 jogos, e 10 gols sofridos, além de ter tido apenas duas derrotas. Já a holandesa recém chegada ao campeonato inglês, tem 20 jogos e sofreu 35 gols, porém é um dos destaques da competição, salvando o Aston Villa tanto na liga quantos nas copas, onde tem um dos maiores números de defesas e onde decidiu uma disputa de pênaltis com 3 defesas, respectivamente.

Um duelo entre goleiras seguras e de uma qualidade enorme, que difícilmente erram. Certamente não vão passar desapercebidas em um jogo grande como esse.

Ataques de fogo

Sem Miedema cortada e Jill Roord que nem sequer foi convocada devido a uma lesão no joelho, podemos falar que o nome do momento no ataque holandês é Lineth Beeresteyn, atacante da Juventus. Com muita movimentação, velocidade e explosão, a jogadora possuí, na temporada, 16 participações em gols (3 assistências e 13 gols) em 25 jogos. É uma arma muito forte a ser explorada pela Holanda, ainda pensando na oportunidade de pegar as laterais da rivais com muito espaço. Pelo lado da Alemanha poderíamos falar sobre a grande Alex Popp, porém com a dificuldade no jogo em velocidade que a defesa da Holanda tem, Klara Buhl ganha notoriedade. A atleta de 23 anos possuí 6 gols e 7 assistências na temporada, e pode ser uma arma muito forte na criação de jogadas.

Meio campo também chama a atenção

Do lado alemão temos Lena Oberdoorf, jovem de 22 anos e que já é uma das líderes dessa seleção. A volante que tem um poder de marcação espetacular, também tem ajudado no ataque. Nessa temporada foram 6 participações, com 4 gols e dois passes em 18 jogos, números interessantes para uma volante. Pela Holanda, sem Victoria Pelova que vinha sendo importantíssima, Jackie Groenen é quem deve comandar o meio de campo iniciando as jogadas. Apesar de não ser uma jogadora com números expressivos no ataque, a atleta do PSG tem uma função muito importante, fazendo a bola girar e iniciando as jogadas do time. Na parte defensiva é responsável pelo primeiro combate, principalmente quando a Holanda se monta com uma linha de cinco na defesa. Sem Pelova, Groenen ficou muito sobrecarregada e exposta contra a Espanha, algo que pode ser explorado pela Alemanha.

Destaque para os bancos

Em jogos desse tamanho os bancos podem fazer a diferença, e as duas seleções tem jogadoras que podem aparecer e decidir a partida. Pelo lado da Alemanha podemos citar a experiente Sara Dabritz e as jovens Jule Brand, Laura Freigang e Sydney Lohmann. Pela laranjas, o banco conta com a experiente Van de Sanden, a jovem Romée Leuchter e a decisiva Damaris Egurrola.

São bancos equilibrados, com alternativas táticas e que podem mudar o jogo para qualquer lado, o que aumenta ainda mais a expectativa por um jogo de muita qualidade.

Pela vaga olímpica!

O duelo é de um tamanho indescritível, a motivação é maior do que tudo, a entrega será gigante, afinal, sonhos estāo em jogo. Um lado querendo voltar ao lugar mais alto do pódio em uma Olimpíada depois de sequer ter participado da última edição, já do outro, a expectativa de chegar em Paris e apresentar algo melhor do que o aquilo que foi apresentado nos dois últimos torneios de maior importância, e voltar a soltar o grito de campeã. Holanda x Alemanha possuí todos os ingredientes de um jogo gigante e que tem muito a entregar, desde histórias e indo até o futebol de mais alto nível que esses dois times jogam. Uma vai para Paris no meio do ano e vai continuar sonhando, enquanto a outra voltará para casa, irá sacudir a poeira e começar a se preparar para um novo ciclo que começa com a Eurocopa de 2025, trazendo novas motivações e sonhos, afinal, o futebol é isso, e parar de sonhar com coisas grandes não é um opção para essas duas gigantes.

Holanda x Alemanha se enfrentam no dia 28/02 às 16:45, com transmissão dos canais ESPN na tv e Star+ pelo streaming.

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Matheus

Estudante de jornalismo e apaixonado por esporte!